quinta-feira, 22 de julho de 2010

Jornalismo, ética e política¹

Por Lorena Morais

Imagem retirada do blog Cachoeira Online


Porque escrever sobre Jornalismo, Ética e Política no Retrato do Recôncavo

Interessei-me em expor parte do ensaio que venho contruindo sobre ética jornalística, com intuito de promover uma reflexão ética a respeito dos meios de comunicação do Recôncavo - especialmente Cachoeira - dos profissionais que atuam nesse meio e de nós, enquanto indivíduos de uma sociedade democrática e principalmente enquanto eleitores. Que essa reflexão promova uma discussão saudável sobre aspectos que nos deparamos na mídia e no dia-a-dia, para que também possamos nos questionar se estamos tendo uma conduta ética na profissão, no ambiente familiar, acadêmico ou entre amigos.

Entendendo a objetividade

O código de ética do jornalismo americano condena o envolvimento político por parte do jornalista ou veículo. A concepção de jornalismo não político, é utópica. O jornalista sofre influências de doutrinas e filosofias e tem suas opções como eleitor. A própria carreira faz com que o profissional adquira conhecimento em relação a ideologias partidárias e faça suas escolhas. Cada ser é moldado pelas suas convicções pessoais; mas esses aspectos da personalidade de cada um podem atrapalhar o ideal de objetividade no jornalismo. 
Porém, o que é objetividade? Segundo o jornalista Eugênio Bucci em seu livro Sobre Ética e Imprensa,
“Objetividade é uma palavra que vem de objeto. Diz-se que tem objetividade o discurso em que se expressam as características próprias do objeto – e não as do autor do relato (sujeito). O jornalismo (...) adota a pressuposição tácita de que uma descrição pode ser (...) inteiramente fiel às características do objeto, sem que o sujeito [jornalista] a deforme” (2000, p. 92). 
Informações que se baseiam no princípio da objetividade muitas vezes podem representar vazios informativos. É fato que o jornalismo existe para pôr ideias em confronto, promover o debate público; nos suprir de notícias que contribuam para nossa movimentação e tomada de decisões na democracia moderna. “O bom jornalismo nada tem a ver com a indiferença” (BUCCI, 2000, p. 94), as emoções devem integrar a reportagem assim como integram a alma humana. Nada de exageros, a objetividade no jornalismo pede equilíbrio.

Política pela informação

“O jornalismo tange a esfera do poder, critica e vigia os governantes e, nesse sentido, é uma atividade social marcadamente política – mas é política pela informação, pela opinião, e não pelo partidarismo” (BUCCI, 2000, p. 104).
O jornalista, portanto, deve obedecer ao interesse público e não de um partido político. É preciso evitar a perda da independência do veículo para proteger a qualidade de informação que é oferecida à sociedade. Para que essa independência se efetive o dono do veículo midiático deve se distanciar do envolvimento político tal qual seus empregados e colaboradores jornalistas. Isso sempre acontece? Não. Existem exemplos na mídia nacional, mas trazendo para nossa realidade temos o clássico exemplo do jornal Correio² - antigo Correio da Bahia, pertencente à família do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM).
A política editorial do grupo defende a interesses políticos provenientes do “carlismo”³. Isso não significa que todo jornalista que faz parte do grupo seja antiético ou “picareta”. Uma jornalista me afirmou que conheceu tanto profissionais que se engajaram na política editorial do veículo quanto os que tinham boa conduta em relação ao seu trabalho. Isso acontecia porque “[os] profissionais designados para uma função deve ter um perfil de consciência adequado àquela função” (BUCCI, 2000, P. 105). Em palavras mais grosseiras, é como o Antônio Carlos Margalhães definiu e diferenciou os profissionais da impressa: “Existem dois tipos de jornalista: os que querem informação e os que querem dinheiro. Você não pode dar dinheiro àquele que busca informação e nem informação aos que querem dinheiro” (ACM in CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 45). 
Quem está no poder geralmente vê nos meios de comunicação a forma para tornar público e massivo seu trabalho. “O prefeito espera ver nos jornais da cidade as inaugurações de obras e as ações do governo. A deputada anuncia na entrevista pelo rádio as emendas que aprovou no orçamento e que devem beneficiar a região” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 45). A mídia não pode ser um espaço para esse tipo de informação? Claro que pode! Precisamos saber o que os políticos tem feito em prol da nossa comunidade. Mas não apenas isso. Os jornalistas querem saber também por que o prefeito não aplica verbas em determinado bairro que tem opositores ou porque a deputada está sendo acusada de caixa 2.
Quando o jornalista tende a seguir um repertório de promoção política de um determinado grupo, por exemplo, perde seu referencial e sua espontaneidade: “vai se transformar num repórter ou num editor mecânico, em permanente desencontro com seu modo natural de agir, pensar, olhar e reagir. (...) Será mediano ou medíocre” (BUCCI, 2000, p. 107). Como acreditar na credibilidade do profissional ou veículo midiático? É necessário que o jornalista busque o ponto de equilíbrio entre seu dever profissional e sua conduta individual. Buscar esse equilíbrio é um dever ético.

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 NOTAS
¹Artigo original publicado no Cachoeira Online. Trecho do Ensaio de mesmo titulo e autora.
² O jornal "Correio da Bahia" começou a circular em 1979, sob propriedade de ACM. Suas empresas de comunicação incluem também a TV Bahia, afiliada à Rede Globo de Televisão.
 ³ “Carlismo” é o nome do movimento político nascido na Bahia e criado por Antônio Carlos Magalhães (ACM). A ideologia partidária apresentava características do coronelismo e populismo e tinham seguidores da própria família ou de amigos ligados ao partido


REFERÊNCIAS

BUCCI, Eugênio. Conflitos de convicção e consciência. In: Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-112.

CHRISTOFOLETTI, Rogério. Entre políticos e gabinetes. In: Ética no Jornalismo. São Paulo: Editora Contexto, 2008. p. 43-45

FOLHA ONLINE. Saiba mais sobre o senador Antonio Carlos Magalhães. São Paulo, 2007.


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