terça-feira, 19 de março de 2013

Governos criam rede e plano de combate ao racismo e intolerância religiosa na Bahia e no Brasil

O lançamento da Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa na última segunda-feira (18), em Salvador, criou mais um aliado no combate ao racismo e à intolerância religiosa no estado da Bahia. O evento aconteceu no Salão de Atos Baiano de Acarajé, no Centro Administrativo da Bahia (CAB) e, além do governador Jacques Wagner, contou com a presença da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, e do secretário de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Elias Sampaio.

A rede é um conjunto de ações com o propósito de combater a discriminação racial e a intolerância religiosa, por meio da criação do centro integrado formado por representantes de 20 entidades do poder público e da sociedade civil, que vão orientar as vítimas do racismo. O espaço vai funcionar no Prédio da Fundação Pedro Calmon, localizado na Avenida Sete de Setembro, centro de Salvador.

Evento de implantação da Rede de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa.
Foto: Mateus Pereira/GOVBA

Todas as denúncias serão ouvidas e encaminhadas pelos representantes dos órgãos e entidades que trabalham no combate à discriminação racial como delegacias, Ministério Público e órgãos federais. “Todas as denúncias podem ser formalizadas no centro. A rede vai ser uma porta de entrada para todas as denúncias e os crimes que ocorram e, a partir daí, vamos otimizar as ações contra o racismo e contra a intolerância religiosa”, diz o secretário Elias Sampaio.

Entre as ações desenvolvidas pela Rede estão o fortalecimento das organizações da sociedade civil que prestam serviços de acompanhamento e atendimento às pessoas; integração e compartilhamento de banco de dados das organizações articuladas na Rede para recebimento de denúncias, acompanhamento de casos e divulgação de informações sobre racismo e intolerância; e estímulo à produção acadêmica e formação de agentes multiplicadores do conhecimento sobre legislação antirracista e anti-intolerância religiosa.

Plano para comunidades de matriz africana

Ainda no combate à intolerância religiosa, foi lançado em janeiro deste ano, na cidade de Brasília/DF, o Plano de Desenvolvimento Sustentável para Comunidades de Matriz Africana. O evento contou também com a presença da ministra Luiza, ministras e ministros do governo, parlamentares e representantes da sociedade civil organizada.

O documento, coordenado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), reúne políticas voltadas para a garantia de direitos, proteção do patrimônio cultural e da tradição africana no Brasil e o enfrentamento à extrema pobreza com ações emergenciais e de fomento à inclusão produtiva.

O ogã Buda, da Roça do Ventura em Cachoeira, fez parte da mesa de lançamento do plano em Brasília.
Foto: Divulgação
Dentre os convidados, participou também da mesa de lançamento do plano, o Ogã Edvaldo Conceição, conhecido como Buda, representante do terreiro Zo Ogodo Male Bogun Seja Hunde (Roça do Ventura) em Cachoeira. De acordo com Buda, estavam presentes no evento as três principais nações de cultura africana da Bahia: Gbefon, Yorubá e Bantu.

Para ele, a criação deste plano é uma tentativa do governo para criar ferramentas e mecanismos de ação direta para comunidades negras no país. “Espero que finalmente grupos de matriz africana tenham efetivamente um espaço na sociedade política e sejam atendidos nas suas reivindicações mais urgentes e fundamentais”, reivindica Buda.

Ele desejou ainda que o plano ajude a preservar também o território físico e sagrado dos terreiros, que diversas vezes são invadidos e sofrem atentados, devido à intolerância religiosa. “Esperamos que os órgãos federais, em sintonia com as comunidades religiosas de matriz africana, realizem ações de defesa do território físico e identitário das referidas comunidades, para não perdermos nossas terras para os setores organizados da especulação imobiliária ou ainda por razões diversas”, complementa.

Intolerância Religiosa no Brasil

O número de denúncias referentes à intolerância religiosa no Brasil, feitas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, aumentou de 15 em 2011 para 109 em 2012. Os principais alvos de discriminação são as religiões de origem africana, como candomblé e umbanda.

“O Brasil tem um histórico de negação das tradições não cristãs. Essa negação não é exatamente da religião, mas do valor de todas as tradições de matriz africana. Na verdade, para nós, é racismo”, afirma Silvany Euclenio, secretária de Políticas das Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em entrevista a Carta Capital em fevereiro deste ano.

Parte do território da Roça do Ventura teve sua área devastada após
ação comandada por empresário.O processo encontra-se na justiça.
 Foto: Divulgação
No ano de 2011, parte do território da Roça do Ventura em Cachoeira foi devastado, com derrubada de árvores e vegetação, além de aterramento de uma lagoa após ação de empresário que visava construir um condomínio-clube no local. A obra foi embargada após processo de tombamento do local, feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O processo de condenação do empresário encontra-se na justiça.

No dia 10 de janeiro deste ano a Roça do Ventura também sofreu um incêndio que consumiu cerca de cinquenta árvores e plantas sagradas do local. As causas do incêndio ainda não foram descobertas, mas o ogã Buda acredita que a ação foi criminosa, devido a impasses jurídicos. Ele espera que averiguação de casos como este sejam mãos ágeis. “Espero que qualquer terreiro que enfrente a série de atentados que nós da Roça do Ventura estamos enfrentando, tenham a colaboração de um conjunto de órgãos públicos e que atue de modo ágil e imediato, apurando os fatos e punindo os responsáveis”, reivindica.

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