Lorena Morais
Desde quando se iniciou o povoamento em nosso país, as feiras fizeram parte da composição do espaço. No Recôncavo baiano, especificamente, eram vendidos gêneros alimentícios, tabaco, tecido e vários outros produtos comercializados livremente. Daí a ideia de “feira livre”.
Cachoeira era constituída de várias chácaras, por isso lavradores e agricultores sentiam a necessidade de ir ao centro da cidade vender seus produtos, também como ex-escravos e comerciantes.
Foram herdados muitos costumes tradicionais característicos das feiras africanas, um deles é referente à comercialização de produtos divididos por setores – como o local que vende a farinha, remédios caseiros, frutas, etc. Outro costume muito comum é a relação de parentesco existente entre os feirantes.
A feira cachoeirana enfrenta um debate que se refere a duas questões, saúde e cultura: Como estabelecer um paralelo sem agredir ambas as partes? A Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio - órgão responsável pela manutenção da feira - vem amadurecendo um projeto de padronização das barracas. “A ação governamental é de tirar os produtos hortifrutigranjeiros do chão, para assim melhorar as condições de higiene”, afirma o então secretário Carlos Alberto Fraga Lobo (Cacai Lobo). Ele frisou que a saúde é prioridade e que em um segundo momento pretende lançar a ideia de padronização de toda a feira livre. Antes almeja promover palestras, oficinas e audiências públicas para discutir com os feirantes e a sociedade melhores medidas de padronização com benefício mútuo. Já existem dois modelos de barracas prontos a serem apresentados e o secretário diz: “Não faço nada se não for de forma democrática. Vamos levar os modelos para que os feirantes aperfeiçoem. Não vai ser imposto, vamos discutir”.
Opinião dos feirantes
Todos os feirantes que vendem seus produtos no chão aceitaram
as barracas que serão doadas pela secretaria
E o feirante, o que acha dessa medida? Concorda com a ideia de padronização?
Joelson faz parte da família Lopes, que há 30 anos tem suas barracas na feira, e diz: “Nós temos que ver o modelo. Tem que se fazer barracas de acordo com os produtos vendidos. Em um projeto antigo foi construído um tipo de barraca inadequada para mim, que vendo sabão. Quando chovesse iria molhar todo o meu produto. Com a padronização fica mais organizado, mas a depender do modelo”.
Jair Passos – que tem 32 anos de trabalho na feira de Cachoeira - conta que o feirante perde espaço e acha que a solução para a falta de higiene é conscientizar a população. “A padronização perde o espaço, nos tira do lugar, perdemos os fregueses. Já tentaram uma vez e não deu certo. Quem não tem mercadoria acaba tendo uma banca maior. É injusto. O que tem que fazer é conscientizar os feirantes em relação à limpeza e colocar coletores”, afirma o feirante.
As ideias ficam divididas e os feirantes buscam essencialmente seu próprio benefício e não querem sair perdendo.
A visão do historiador
Cacau Nascimento, 55, histori
ador, cachoeirano e habitual usuário da feira livre, alerta para um ponto importante da representatividade da mesma em nosso cotidiano. Existe toda uma história contida na forma como se apresenta e um leque de costumes que ainda perdura. “Toda a dinâmica comercial vem da feira livre. Tudo o que está na cozinha, na geladeira vem da feira. Se ocorrer [a padronização] vai se perder a tradição, porque a feira representa o patrimônio imaterial do Recôncavo. Mutilam-se relações de parentesco e as relações negras presentes ali. Mas o poder público desconhece isso”, focaliza o historiador.
Essa questão ainda vai abrir muitas discussões, pois cada grupo quer defender seu próprio ponto de vista. Enquanto de um lado estão os feirantes e a sociedade que defendem o tradição, do outro está o poder público e parte da sociedade que anseia ver a organização da feira segundo moldes padronizados para uma melhor higienização.
Cachoeira era constituída de várias chácaras, por isso lavradores e agricultores sentiam a necessidade de ir ao centro da cidade vender seus produtos, também como ex-escravos e comerciantes.
Foram herdados muitos costumes tradicionais característicos das feiras africanas, um deles é referente à comercialização de produtos divididos por setores – como o local que vende a farinha, remédios caseiros, frutas, etc. Outro costume muito comum é a relação de parentesco existente entre os feirantes.
A feira cachoeirana enfrenta um debate que se refere a duas questões, saúde e cultura: Como estabelecer um paralelo sem agredir ambas as partes? A Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio - órgão responsável pela manutenção da feira - vem amadurecendo um projeto de padronização das barracas. “A ação governamental é de tirar os produtos hortifrutigranjeiros do chão, para assim melhorar as condições de higiene”, afirma o então secretário Carlos Alberto Fraga Lobo (Cacai Lobo). Ele frisou que a saúde é prioridade e que em um segundo momento pretende lançar a ideia de padronização de toda a feira livre. Antes almeja promover palestras, oficinas e audiências públicas para discutir com os feirantes e a sociedade melhores medidas de padronização com benefício mútuo. Já existem dois modelos de barracas prontos a serem apresentados e o secretário diz: “Não faço nada se não for de forma democrática. Vamos levar os modelos para que os feirantes aperfeiçoem. Não vai ser imposto, vamos discutir”.
Opinião dos feirantes
Todos os feirantes que vendem seus produtos no chão aceitaramas barracas que serão doadas pela secretaria
Joelson faz parte da família Lopes, que há 30 anos tem suas barracas na feira, e diz: “Nós temos que ver o modelo. Tem que se fazer barracas de acordo com os produtos vendidos. Em um projeto antigo foi construído um tipo de barraca inadequada para mim, que vendo sabão. Quando chovesse iria molhar todo o meu produto. Com a padronização fica mais organizado, mas a depender do modelo”.
Jair Passos – que tem 32 anos de trabalho na feira de Cachoeira - conta que o feirante perde espaço e acha que a solução para a falta de higiene é conscientizar a população. “A padronização perde o espaço, nos tira do lugar, perdemos os fregueses. Já tentaram uma vez e não deu certo. Quem não tem mercadoria acaba tendo uma banca maior. É injusto. O que tem que fazer é conscientizar os feirantes em relação à limpeza e colocar coletores”, afirma o feirante.
As ideias ficam divididas e os feirantes buscam essencialmente seu próprio benefício e não querem sair perdendo.
A visão do historiador
Cacau Nascimento, 55, histori
ador, cachoeirano e habitual usuário da feira livre, alerta para um ponto importante da representatividade da mesma em nosso cotidiano. Existe toda uma história contida na forma como se apresenta e um leque de costumes que ainda perdura. “Toda a dinâmica comercial vem da feira livre. Tudo o que está na cozinha, na geladeira vem da feira. Se ocorrer [a padronização] vai se perder a tradição, porque a feira representa o patrimônio imaterial do Recôncavo. Mutilam-se relações de parentesco e as relações negras presentes ali. Mas o poder público desconhece isso”, focaliza o historiador.Essa questão ainda vai abrir muitas discussões, pois cada grupo quer defender seu próprio ponto de vista. Enquanto de um lado estão os feirantes e a sociedade que defendem o tradição, do outro está o poder público e parte da sociedade que anseia ver a organização da feira segundo moldes padronizados para uma melhor higienização.
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