domingo, 29 de agosto de 2010

Lítero-jornalístico

Uma esperança no meio do mato

Lorena Morais

26 de agosto de 2010, distrito de Santiago do Iguape. Zonal rural do município de Cachoeira


Baía do Iguape, vista da região do Kaibongo
Subo um caminho extenso e íngreme em direção a localidade conhecida como Kaibongo. O caminho não é muito diferente das demais regiões rurais. Mato, árvores, barro, plantações, gado, cachorros, casas de taipa e gente da roça. Do alto pode-se vislumbrar a beleza da Baía do Iguape, no baixo Paraguaçu.
O percurso é longo até chegar a primeira casa, quase imperceptível por entre a vegetação que cobre a fachada. Plantação de milho, aipim, limão, inhame, alface, mamão, cebolinha, cana e coco. Um cachorro que late. Um homem do mato: facão, bota e chapéu. Uma casa simples, feita de barro e madeira. Essa gente não é vaidosa. Não pensam em construir grandes "castelos", não vestem roupas de luxo e nem tampouco vivem de tecnologias. Acordam cinco horas da manhã, vão para a maré pescar ou mariscar e a tarde vão para o trabalho na roça.
As casas são distantes uma das outras na região do Kaibongo. As propriedades são grandes e quando você ainda pensa que não existe mais nada além de mato, eis que surge uma escola. Sim! Uma escola de mesa e cadeira, giz, quadro negro, merenda escolar, lápis de cor, professor e alunos. Crianças que fazem da escola seu projeto de vida. Que acordam cedo, andam quilometros e sobem ladeiras para aprender a ler e a escrever. Para conhecer a cultura da sua localidade, país e mundo e compreender o direito do exercício da cidadania.
Os pais trabalham para garantir esse direito aos filhos. E as professoras, apaixonadas pela mudança que a educação provoca contribuem para formação desses meninos. Lígia Barros é a gestora daquela escola. Como alguns pais não podem ficar com os filhos depois do horário da aula - porque trabalham na roça -, ela e suas colegas cuidam das crianças, dão almoço e promovem atividades recreativas. Fazem mais do que o papel de educadoras, mas o papel da mães. Mães que constroem o futuro do nosso país.
No quadro: a cultura dos ditados populares. No mural: o misto de cores do palhaço que vive do riso. No teto: o móbile de cidadãos de papel - a criatividade que vira brincadeira. E nos olhos deles a vontade em crescer a cada dia.
Josiel, seis anos, quer ser professor. Ele é muito bom em contas e faz da vida uma matemática. Esse garoto não sabe o quanto precisa batalhar para chegar aonde almeja. Porém, duas coisas ele demonstrou ter: força de vontade e esperança. Imagine quantos sonhos não estão ali? Uma escola no meio do"nada" distante de muita coisa, mas perto do coração dessa gente que acredita que pra ser feliz não é preciso muito. 
Dessa gente que cavalga a vida numa eterna brincadeira...

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 Para conferir mais fotos e entender um pouco da magia de Santiago do Iguape e seu povo, clique aqui.

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