Uma esperança no meio do mato
Lorena Morais
26 de agosto de 2010, distrito de Santiago do Iguape. Zonal rural do município de Cachoeira
![]() |
Baía do Iguape, vista da região do Kaibongo |
Subo um caminho extenso e íngreme em direção a localidade conhecida como Kaibongo. O caminho não é muito diferente das demais regiões rurais. Mato, árvores, barro, plantações, gado, cachorros, casas de taipa e gente da roça. Do alto pode-se vislumbrar a beleza da Baía do Iguape, no baixo Paraguaçu.
O percurso é longo até chegar a primeira casa, quase imperceptível por entre a vegetação que cobre a fachada. Plantação de milho, aipim, limão, inhame, alface, mamão, cebolinha, cana e coco. Um cachorro que late. Um homem do mato: facão, bota e chapéu. Uma casa simples, feita de barro e madeira. Essa gente não é vaidosa. Não pensam em construir grandes "castelos", não vestem roupas de luxo e nem tampouco vivem de tecnologias. Acordam cinco horas da manhã, vão para a maré pescar ou mariscar e a tarde vão para o trabalho na roça.
As casas são distantes uma das outras na região do Kaibongo. As propriedades são grandes e quando você ainda pensa que não existe mais nada além de mato, eis que surge uma escola. Sim! Uma escola de mesa e cadeira, giz, quadro negro, merenda escolar, lápis de cor, professor e alunos. Crianças que fazem da escola seu projeto de vida. Que acordam cedo, andam quilometros e sobem ladeiras para aprender a ler e a escrever. Para conhecer a cultura da sua localidade, país e mundo e compreender o direito do exercício da cidadania.
Os pais trabalham para garantir esse direito aos filhos. E as professoras, apaixonadas pela mudança que a educação provoca contribuem para formação desses meninos. Lígia Barros é a gestora daquela escola. Como alguns pais não podem ficar com os filhos depois do horário da aula - porque trabalham na roça -, ela e suas colegas cuidam das crianças, dão almoço e promovem atividades recreativas. Fazem mais do que o papel de educadoras, mas o papel da mães. Mães que constroem o futuro do nosso país.
No quadro: a cultura dos ditados populares. No mural: o misto de cores do palhaço que vive do riso. No teto: o móbile de cidadãos de papel - a criatividade que vira brincadeira. E nos olhos deles a vontade em crescer a cada dia.
Josiel, seis anos, quer ser professor. Ele é muito bom em contas e faz da vida uma matemática. Esse garoto não sabe o quanto precisa batalhar para chegar aonde almeja. Porém, duas coisas ele demonstrou ter: força de vontade e esperança. Imagine quantos sonhos não estão ali? Uma escola no meio do"nada" distante de muita coisa, mas perto do coração dessa gente que acredita que pra ser feliz não é preciso muito.
Dessa gente que cavalga a vida numa eterna brincadeira...
...
______________________________
Para conferir mais fotos e entender um pouco da magia de Santiago do Iguape e seu povo, clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário